sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Crônica!

Sendo aprendiz de mim mesmo


Eu sei bem.
Sei que ousei encarar refúgios. Sei que ousei ter veneno.
Sei que ousei ouvir Iron Maiden. E sei que ousei em grandes decisões.
Em algumas situações, precipitado eu fui.
Em alguns casos, optei pelo instinto brutal.
Comi tutanos. Comi pérolas. Comi pedras e da maioria dos perfumes que experimentei encontrei ferrões que me fortaleceram mais ainda na arte de tentar.
Gritei a plenos pulmões! É verdade.

E só relaxei quando quase os enchi de água salgada naquela frustrante tentativa de nadar sem nem ao menos saber.
Colhi frutas, febres, quedas e aventuras. E na imensa lua fria solucei.
Como o diabo. Como o galho ao vento. Como o caco de vidro que se quebra e se esconde debaixo da cama. Dramas.
Desacreditei, amarguei, lutei contra as muitas sombras no quarto e encarei o temível dinossauro que habitava a minha floresta de sonhos.
Crescendo, derrapei na ladeira da angústia. Equilibrando-se entre quatro rodas de gelatina fixadas debaixo dos joelhos cansados de rasgar. Fiz manobras. Vi ossos expostos e fraturas na culpa e na dor.
Também contei rãs e caramujos em diversos riachos, atolando em açudes e fazendo cortes com escamas ao invés de anzol. E vi muitas vezes o rancor do sol.
Lado a lado com a fina chuva e a distorção dos hardcores melódicos que só os justos e os disciplinados conseguem enxergar.
Bebi drinques, ó se bebi, que só os mais atrevidos deuses teriam coragem de produzir. Cangaceiro e profeta. Consciente, deixei para trás apenas o que achei estar errado. E justifico. Correndo contra o tempo, a fúria, as ondas, a neblina e a solução. Mas nunca, nem a mais e nem a menos, além do que os meus filhos poderiam herdar. X-Men. Androide. Alien. Gosma. Predador ou penumbra. Ás vezes só nervo. Às vezes apenas sangue. Sempre combinando a naturalidade espontânea com as ocasiões certas. Sendo medroso, marrento, inútil, afobado, criança, desiludido e fanático.
Lunático, aprendi na base do verdadeiro Rap como se moldar.
No brega, herdei ser fudido. No Nordeste querido, abracei o aroma divino do ranço.
Tudo pra entender com mais profundamente o quanto a ironia humana é horripilante.
O que me surpreende mais atualmente?
Um quilo a mais de sabedoria científica?
Uma hipocrisia encomendada, sinistra, com a pura intenção de julgar só pra destruir esperanças? Perversidades insanas?
Ou uma nova receita de costela assada do mais novo restaurante? 
Pluguei-me. Injetei emoções. Apliquei destroços onde já havia adrenalina de sobra.
E fui tentando sobreviver ao novo. De novo. Dando conselhos a mim mesmo ao invés de se rejeitar e excluir todos. Unânime. Completo. Profético.Poético.
Pois aprendi desde cedo que o mundo roda. Apesar de só agora me surpreender com cada pedaço de destino que ele encaixa nesse meu quebra-cabeça.
Destino se faz sem planos.
Mas planos se fazem com presentes ao longo do ano.
Esse mesmo destino.
Que já me jogou como ioiô no abismo, mas hoje forra minha última queda com pétalas de uma fadinha surgida na mais bendita e exata hora.
Atrevida gotinha de orvalho.
Semente miudinha que perfurou meu coração e se enraizou pelo universo inteiro. Sol. Asteroide. Atlântida. Meu profundo tesouro soterrado.
Minha estrela guia.
Atual magia atual.
Dos meus olhos e de um novo amanhã.
Um derradeiro quadrinho. Uma obra prima rascunhada na parte de trás da última carta que escrevi a Deus. Fio de luz. 
Que atravessou pelo cascalho do imundo telhado e caiu diretamente no meu rosto. Só pra me fazer viver mais um dia.
Nessa vida. Nesse imenso mistério. Nesse transbordar de ciências e cotidianos.
Simples e complexo.
Complexo porque te amar é a coisa mais importante desse mundo.
E simples porque toda essa conversa é inútil pra descrever o que sinto por ti. 
Alimento. Sono. Desejo. Coragem. Ânimo. Orgulho.
E Saudade. 
Para Sílmia. 
Com amor e carinho.
*Crônica publicada no jornal O POVO em 30/10/2012
Pra ler na íntegra: http://migre.me/o2K8v 

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